Um dia, o círculo
O alimento que como, um dia já foi vivo.
O arroz com feijão que misturo no prato
já receberam a carícia da chuva
e o sopro do vento
enquanto cresciam despreocupados
ouvindo o canto dos pássaros.
Um dia, em tarde luminosa de primavera,
bem junto ao peito do frango que estraçalho
já pulsou um coração cheio de vida.
E assim, cada partícula que ingiro,
fruta e folha, grão ou raíz,
já teve vida própria e foi feliz.
Um dia, este corpo que se alimenta
de leite e ovos, carnes e óleos,
deixará de comer para ser comido.
Então o círculo se completará:
cada pedaço de mim se transformando
em fino acepipe para os vermes se fartarem.
(do livro de poemas inédito: Alma Obscura)