MEU BEM, MALANDRAGEM

Eu já quis as sandálias e a cartola

de outros sonhos,

carregar as pedras dos castelos que não habitei,

eu já quis embolsar a sombra do dinheiro

que não era meu,

o rock'n'roll - motor do meu Corcel,

eu escutava estrelas sintonizando vaga-lumes.

Anjos apocalípticos lambendo sorvetes de sarin

desafinam o coro dos contentes do Carnaval,

o santo caminhava sobre as águas

levando nos dentes o punhal,

o que é que há, neném?

trouxemos buscapé e fedegoso

ao desfile militar,

e não dizemos amém,

o cardeal e o deputado

que despejem moedas no serpentário.

Eu que já fui o Cara

queimo o nariz nas estrelas olhando o abismo,

e entregando a palma da mão à velha louca

costurei n'alma o mapa-mundi

e se às autoridades confundi

no doce-esporte de roubar touca

ao dorminhoco,

bato prego na memória

fechando a passagem à ilusão,

porque, meu bem, malandragem

é ter dois olhos e certeza nos pés

(10/02/2008)