AGUADEIRO DE ALMAS

AGUADEIRO DE ALMAS
Jorge Linhaça

Leva as latas na sua canga
o aguadeiro do sertão,
mata a sede dos sofridos
atende a população
esperança dos desvalidos
em troca de um tostão


Na cangalha, a esperança,
passada de mão em mão,
o chapéu sobre a cabeça
os pés descalços , no chão,
no peito a singeleza
de abraçar uma profissão.

Os poetas são aguadeiros,
matando a sede de emoção,
se lhes falta o dinheiro,
para pagar uma edição,
versejam no mundo inteiro
na máquina da ilusão.

transpõem as fronteiras
na tela do computador:
se não enchem a algibeira,
poetam apenas por amor,
em uma eterna brincadeira
para aliviar a sua dor.

O poeta e o aguadeiro,
descalços , de pé no chão,
Um não usa o sapatos
o outro vive de ilusão,
ambos desempenham seu ato
saciando a sede e a emoção.