Desde ontem tudo é novo
Desde ontem — já te explico —
desde ontem, logo cedo,
descobri como sou rico,
quanto posso amar sem medo.
Posso olhar — com boas vistas —
as águas do Velho Chico,
as nuvens quase infinitas
deste céu tão infinito;
posso ver quem não me avista
por se achar superior,
vejo-lhe a sombra egoísta
da solidão e da dor;
posso ver quem quer ser visto
porque precisa de apoio,
porque posso ver... com isto
sei do trigo e sei do jôio.
Desde ontem — porque eu quis —
uso o colírio da paz,
então vi que sou feliz
e que — feliz! — vejo mais:
vejo a criança que esmola
mais do que um pão, meu abraço;
vejo na porta da escola
além do portão, um espaço;
vejo no jogo de bola
não um chute, mas um passo...
Posso olhar — com boas vistas —
as águas do Velho Chico,
as nuvens quase infinitas
deste céu tão infinito;
posso ver quem não me avista
por se achar superior,
vejo-lhe a sombra egoísta
da solidão e da dor;
posso ver quem quer ser visto
porque precisa de apoio,
porque posso ver... com isto
sei do trigo e sei do jôio.
Buritizeiro, 12 de fevereiro de 2008 (11h13)