COLHEITA DE ESPERANÇA

Há uma extensa paixão que há muito não habita

Na suprema realidade da minha indomável solidão

Sobrevivendo á seca despontada nos meus vãos

Vigorizados e demasiadamente repetitivos

Desolados em gotas que acumulam nuvens de dor

A solidão deixa de ser triste quando é liberdade

Numa verdadeira terra de ninguém de alguém

Sobre um planalto varrido por ventos de fogo

Onde as sementes esperarão o regresso das chuvas

Adormecidas na erva daninha do esquecimento

Na franja de uma esperança que absorve o amanhã

Desnudando arbustos que dançam sem eco

Deixando apenas uma crosta salgada de lágrimas

Semeando no rosto uma colheita de nada

Num jardim sobre uma lua que não existe

Esvaziando-me de entrega a esperas que não esperam

Afio as garras do rancor sobre o dorso

De um rochedo de ausências nas minhas vontades

Que reclamam poéticas num alarme que soa revolta

A saudade devora o tempo de medo mas saboreia

A esperança encontrada num amor tatuado

No Sol que bronzeia de prazer cada ontem

Do meu chegar hoje a este cálice de emoções

O amanhã é sombra iluminada de luz

De carências que a alma exige do corpo

Que trago ao colo de uma paixão contida

Num subsolo de duvidas confirmado

O ideal toca-me o olhar com a perfeição

Num puzzle que a solidão não completa

Gritando o murmúrio de uma alma gémea