SOMBRA
Cheguei da estrada coberto de poeira,
e cansado das minhas andanças
por lugares que não esquecerei.
Deles guardarei momentos
mais do que memórias,
e ensinamentos maiores
do que o tempo
em que neles palmilhei
destinos.
Agora afronto
os dias parados.
Os minutos mirrados,
em fomes que não se saciam
com facilidade.
E a idéia dos horizontes
onde não se chega caminhando
pelas próprias pernas,
como se longe
fosse mais do que isso.
Como se longe
fosse um outro tempo,
diferido, controlado,
onde só se chegasse
com aviso prévio,
quando tudo estivesse pronto
para nos receber.
Agora, encontro-me nessas sombras,
que deslizam afiando as esquinas
dos meios fios das ruas,
sempre à minha frente.
Numa me revejo,
em ombros largos
e braços sumindo em bolsos.
Na outra me perco,
sem entender o que a provoca,
nem porque existe.
Talvez seja uma sombra
que não é feita
de luz interrompida.
Mas apenas da falta
do que possa interrompê-la,
rebelando-se.
Num espasmo negro.
Fevº 2008