MIRAGEM
Debaixo da amendoeira
a sombra é fresca e mansa,
protejo-me na soleira
onde o calor sempre alcança
Que tudo se queime aos poucos
Que nada aconteça em vão
Que solte suspiros roucos
Que alegre meu coração
De longe vejo o seu corpo
Espero que chegue logo
num zunzunar muito torpe,
nos seus abraços me afogo
Que a tarde demore a dança
Que o dia passe ligeiro
Que mesmo esqueça minha pança
Que eu cante um canto fagueiro
No banco fico sentado,
pensando nos seus dizeres
e, num sufoco molhado,
derreto-me em prazeres
Que tudo não acabe cedo
Que fique a pedir bem mais
Que a gente não tenha medo
Que entre nós reine a paz
Num reluzir muito estranho,
vejo que tudo é miragem
Num soluçar des'tamanho,
desperto dessa viagem
Que tudo fique com o tempo
Que o vento bata e não leve
Que dure sempre este evento
Qu'esta visão não se eleve