A cena do engenho da vida
Gira a roda em voltas borbulhantes,
Gira a água no semblante,
O suor salgado salpicando o olhar calado.
A roda envolta do humor,
Do rumor tão murmurante.
Gira a vida, gira!
Gira e levita as mãos em louvor ao sal sagrado.
Gira em tons azuis, rubros na brancura esvaecida.
A roda vem envolta e escolta a nossa volta, nossa saída.
A roda rumoreja salientando as palmas,
Calmas águas transparentes que banha nossas almas.
Gira a roda, gira a vida, gira!
Gira o tempo, lento e sorrateiro,
Arqueiro que atinge bem no meio do nosso envaidecimento
Espreitando-nos a cada momento.
Gira o amor, gira a dor, gira!
Gira a voz, gira a noz que guardamos como lembrança de nós.
Giramos, então, a sós, como nós de um mesmo laço
E sejamos cada passo, cada aço de essência,
Cada maço de certeza, de decência.
Gira a roda em voltas de água
Fazendo barulho em cada poro, em cada pele,
Refletindo o sol do que nós somos,
Refletindo o rol da nossa vida.