A cena do engenho da vida

Gira a roda em voltas borbulhantes,

Gira a água no semblante,

O suor salgado salpicando o olhar calado.

A roda envolta do humor,

Do rumor tão murmurante.

Gira a vida, gira!

Gira e levita as mãos em louvor ao sal sagrado.

Gira em tons azuis, rubros na brancura esvaecida.

A roda vem envolta e escolta a nossa volta, nossa saída.

A roda rumoreja salientando as palmas,

Calmas águas transparentes que banha nossas almas.

Gira a roda, gira a vida, gira!

Gira o tempo, lento e sorrateiro,

Arqueiro que atinge bem no meio do nosso envaidecimento

Espreitando-nos a cada momento.

Gira o amor, gira a dor, gira!

Gira a voz, gira a noz que guardamos como lembrança de nós.

Giramos, então, a sós, como nós de um mesmo laço

E sejamos cada passo, cada aço de essência,

Cada maço de certeza, de decência.

Gira a roda em voltas de água

Fazendo barulho em cada poro, em cada pele,

Refletindo o sol do que nós somos,

Refletindo o rol da nossa vida.

Márcio Ahimsa
Enviado por Márcio Ahimsa em 06/02/2008
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