[Foi tanto o mar que se embraveceu]

Foi tanto o mar que se embraveceu

tanto céu que trovejou

que eu não vi quem me amou -

se foi gente, se foi pedra, ou se esqueceu...

E era vulto que fazia séculos

e uma expansão de terra e céu

até não mais ver o que eram mãos

nem mais saber os próprios pés.

Sente-se tremer a carne com um vento

e num passo em falso vê-se mais firme

como um vulcão quase tormento

se deixando explodir crime e comoção.

E ainda que se perca a paixão

o destino de todos é caminhar em busca

desta fronteira entre o que é amar

e a total desesperança frente ao desatino

da eternidade que a tudo mata

mesmo quando é amor o que fica...

Mas, enquanto vivo, eu, homem,

enquanto carne e cérebro,

penso ver que se desenha novamente

as linhas da serena, ave-de-vento,

tanto eu nunca em ver causei dúvida

ao ver a tempestade por mim passar.

http://metrezuza.blogspot.com