Silêncio de pedra
É como uma amostra de osso de alguma perna, de uma tíbia.
Um corte de uns 12cm X 20cm.
Mas não é osso, é árvore.
Amostra de um tronco de árvore petrificada.
Amostra de fóssil,
Desses fósseis que se vendem como souvenir...
Poderia ser peixe,
Porque vendem peixes petrificados também.
Mas é árvore.
Tanto melhor que seja árvore!
Amo árvores!...
Se não tivesse nascido gente,
Seria candidata a nascer
Primeiro, pássaro;
Depois, árvore!
Há tempos olho essa pedra e penso...
Pra não pensar,
Distanciei-a de mim.
Não chega a ser bonita como objeto decorativo.
Entretanto, faz pensar!...
Faz-me pensar, como as janelas dos sobrados de Ouro Preto me fazem pensar!
Aqueles sobrados, aquelas janelas...
Quantos vultos desfilaram neles,
Quantas vidas se esfregaram nelas!...
Fóssil de uma árvore-menina...
Serviria como peso de papel.
Nem cerne, tinha direito.
Um cernezinho de nada!
Mas de onde veio?
Onde nasceu e cresceu?
O que lhe aconteceu,
Para que se operasse essa transmutação de vegetal em mineral?
Um geólogo deve ter a resposta, posto que estuda pedras.
Mas não me interessa a resposta científica.
Quero a resposta mágica, trágica, antropofágica!...
Acaricio a pedra em seu corte transversal...
Lisa, fria.
Aliso-a em sua lateral – corrugada e áspera.
Cerne marron manchetado de tons claros...
Exterior bege.
Viajo no tempo, até encontrá-la árvore.
Encosto-me em seu tronco, dá pra encostar!
Tento divisar e adivinhar suas folhas...
Longas e pontiagudas
Ou pequenas e arredondadas?...
As folhas todas são verdes.
As suas, também.
Segredo de pedra.
Silêncio de pedra.
Frieza de pedra.
Retiro-me.
Devolvo a pedra a seu atual lugar
Na atual estante, de mim distante...
Permanecerá com uma pergunta semelhante à da Esfinge...
Essa inocente pedra não devorará ninguém.
Pedra, Pedrelina!
Meu osso que não preciso roer!
Comprada que foi por meu marido,
Nem sei mesmo qual o sentido...
Pétreo arremesso de interrogação contra o futuro!
Quem decifrar a resposta,
Vai ser um furo!