A POESIA MAIS TRISTE...
Vai...
E leva contigo a poeira de prata das minhas estrelas!
Leva ainda
A poeira azul de minhas poesias...
E o aroma macio dum sonho confiante
Que brotou numa gota de orvalho
No perfume de alguma flor...
Leva contigo este Amor ainda em botão,
E todas as calçadas coloridas,
Todos os sonhos, risos e sorrisos
Da confiança que “foi...”
Leva
A maciez tépida de um beijo nunca dado,
A enorme suavidade do meu Amor todo em pedaços,
Estilhaçados em vidros coloridos
Que eu sonhei, um dia, ser estrelas...
Leva toda a minha poesia e meu sussurro,
E a minha voz, e as noites perfumadas,
E a maciez dos lençóis que não sentiste
Regados por minhas lágrimas azuis
E banhados
Pelas noites mais perfumadas de luar...
Mas a lágrima pura, azul, que desce pelo rosto,
Esta não vais levar: ela é só minha!...
São pérolas que caem em terra fofa
E delas nascem cantos suaves, em botão...
A voz, podes levá-la: ela é tua,
Tu a ressurgiste de dentro de mim,
E o mérito é teu: que vá contigo!
Eu emudeço como em outros tempos
Que cantava para o vento da manhã,
Gelando a alma em notas muito frias...
Leva tudo:
A vida, a voz e o sorriso...
Só a lagrima vai ficar comigo!
Escorrendo mansa, do rosto até o chão
E na terra se transmude, imediatamente,
Em flores de espinhos em botão.
Pérolas-lágrimas, dores mui profundas,
Que nascem dos olhos, mas vem do coração:
Que se transmudem imediatamente
Em nacarado mar de estrelas muito azuis
E se percam no chão!!...
Deixa que meu coração se petrifique
Nos vapores venenosos do enxofre
E eu me torne estátua, pedra e sal.
E, na Vida que me esquece e me envelhece
Eu sinta que não tenha amado em vão...
Vai...Vai embora logo!! E me deixa a lágrima!...
Parte com os passarinhos,
Que chegando o inverno, voam para o sul
Porque lá é sempre Primavera...
Estou no meu Inverno e as folhas caem,
Faz frio no meu coração,
E o vento uiva, entrando pelas frinchas
Das janelas e portas... da minha solidão...