SEMI-DEUS

Semi-Deus

®Lílian Maial

Ah, doce e belo Baco!

Faze de mim tua deusa e,

como aos pés de Réia,

deita-me ferozes leões,

que morro contigo a cada inverno,

e me renasço, como tu, na primavera.

Verte teu sumo entontecedor,

que te aspiro o orvalho,

em ondas purpurinas,

essa torrente rubra,

esse licor que dá mais sede!

De Ampelos, criaste a vinha,

e a cura pros males do homem.

Então vem a mim

- deus da vindima -

torna-me tua bacante,

que, por teu olhar, empunharei o tirso

e me cobrirei de tênue linho e serpentes.

Vem a mim,

não em metamorfose,

disfarçado em cacho de uvas,

que não sou Erígone ou Ariadne.

Não!

Quero-te mortal,

quero-te meu único deus,

a derramar sobre meu ventre

as vitórias ancestrais de batalhas de amor.

Quero-te fálico,

cálido,

ávido,

hábil,

mau.

Quero-te terra, fruta, pão.

Quero-te pagão!

E nesse ritual,

bacante,

somos atores amantes,

foliões de eternos carnavais:

somos livres animais.

Dentro de ti,

sou embriaguez e uva.

Dentro de mim,

és vinho e festa.

Sacerdotisa e deus,

vestal e ídolo,

toma-me,

bebe-me,

amor.

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