ASSUM PRETO
Tu me disseste:
Você é como o Assum Preto,
esse pássaro triste
que, vazados seus olhos,
canta melhor do que cantava antes,
entoa o som mais belo
e mais doce que existe.
Você, quando sofre,
mergulhada em dor,
faz a mais bela poesia
com mais calor, mais melodia,
principalmente
se a dor é de amor.
Querido, te respondo:
quisera eu ser tão boa e pura
como o Assum Preto.
Ele sabe sofrer
sem perder a ternura.
Na sua instintiva perfeição
canta sem rancor.
Eu, não...
Posso cantar bonito,
mas machuco o amor,
perco a alegria,
amargo a poesia
e, hoje,
o que era melodia no meu canto,
transformo em desencanto.
Do Assum Preto apenas tenho o grito,
do meu eu no mais recôndito e profundo,
tornado canto rouco a denunciar
- no vazio indefinido do infinito -
a sordidez humana e a dor do mundo.