ASSUM PRETO

Tu me disseste:

Você é como o Assum Preto,

esse pássaro triste

que, vazados seus olhos,

canta melhor do que cantava antes,

entoa o som mais belo

e mais doce que existe.

Você, quando sofre,

mergulhada em dor,

faz a mais bela poesia

com mais calor, mais melodia,

principalmente

se a dor é de amor.

Querido, te respondo:

quisera eu ser tão boa e pura

como o Assum Preto.

Ele sabe sofrer

sem perder a ternura.

Na sua instintiva perfeição

canta sem rancor.

Eu, não...

Posso cantar bonito,

mas machuco o amor,

perco a alegria,

amargo a poesia

e, hoje,

o que era melodia no meu canto,

transformo em desencanto.

Do Assum Preto apenas tenho o grito,

do meu eu no mais recôndito e profundo,

tornado canto rouco a denunciar

- no vazio indefinido do infinito -

a sordidez humana e a dor do mundo.

Sal
Enviado por Sal em 11/12/2005
Código do texto: T84172