BONECA de MILHO

Ando nu no meio da multidão

e vejo meus semelhantes com o rosto

estampado de trevas,

o alvoroço da queda da lua na beiramar

espalha destroços ao longo da cidade descrente,

para alegria das crianças e dos cachorros.

A avenida arrasta a minha voz pelas esquinas

e o ladrão empunha a cruz apesar da máscara,

sou o Inexistente e o meu nome é Nunca,

mais do que a Miséria e o Inferno

massacro quem não domina a linguagem do Tempo

pois se escadarias levam do deserto ao sucesso,

os degraus aguardam senhas.

Calado espero com impaciente tranquilidade

o fim da disputa entre o galináceo e a estrela,

o cosmos está fechado ao desfrute da vaidade,

é melhor trocar os olhos pelo bilhete premiado

na eternidade, quem não prefere assistir

à queda dos impérios aonde a dor é um jogo de cartela?

Atualmente utilizo cetro e coroa para conduzir

ávidas garotas ao estofado do carro,

quando o Anjo da Guerra entregará a espada

com o meu nome? quando deixarei as ancas famintas

das adolescentes sexypatrocinadas,

pela cavalgadura fúnebre dos assassinos condecorados?

A glória da conquista é uma boneca de milho

como a moral é um urubu em voo rasante

balas perdidas chegam no perfume das rosas,

até quando a paciência permanecerá virtude?

O certo é esconder o armamento nas catacumbas

pois o lobo fareja o momento propício

de atirar no lixo a máscara do herói.