Meia Noite
Lá fora a chuva cai, devagarzinho.
Alguns pingos ainda estão presos na janela.
É a tal da noite.
Às vezes assombra, às vezes cala.
Nada de novo no horizonte.
Na escuridão, bem ao longe, uma ou outra luz tremula.
Seriam risos? Gostaria que fossem.
Aliás, gostaria que o mundo fosse de risos.
Onde tudo tivesse a sua graça. O seu motivo hilário.
Quando chega meia noite meu olhar se torna profundo.
Abro a janela. E o vento entra como proprietário.
Observo-o engravidar a cortina. Meus olhos estão atentos.
Uma aflição sutil da árvore sob a janela.
Suas folhas não sabem bem para que lado o galho irá pender,
ficando assim, à mercê do vento.
Mas os galhos são sábios. Não se curvam o bastante.
E elas não desgrudam porque não outonam no verão.
Muitas e muitas janelas fechadas.
É meia noite.
Nem todos ouvem o silêncio.
E ele canta cantigas suaves.
E suavemente danço seu ritmo.
Suaves sons na mente.
Chuvosa noite.
Insônia aparente.