VIA LÁCTEA PAULISTANA
Sigo de perto os rastros dessa Lua,
Meio minguante,
Fatia de ornamento em céu oriental,
Companheira das tintas de Magritte
Entre arranha-céus semi-apagados.
Meu olhar se deita em seu colo curvo
E se derrama longe
Por sobre a via láctea paulistana.
No céu de notas de blues
Há estrelas...
Brumosas,
Opacas,
Tímidas,
Pálidas,
Melindrosas,
Asmáticas,
Heroínas do século romântico...
Incertas como incertas são as vias da vida,
Raras como raras são certas mulheres,
Sonâmbulas como ilusões que nos interrompem o sono
E o embalam.
Visto uma camisola fina,
Esvoaçante como sonhos,
Aromática de sândalo,
Deixo uma fresta na janela
E pinço com os olhos um vão do firmamento
Onde amores estelares e lunares acontecem,
Onde a Loba-Lua uiva de paixão!
Aqui,
Num quarto desta São Paulo mágica,
Também há estrelas...
Purpurinas de leite neón
Talham-se sobre minha cama.
Imagem: T. Cohen