FINGIDOR
FINGIDOR
(Ivone Carvalho)
Finge o poeta se o coração está vazio,
Assume histórias por outros vividos,
Cria romances, expõe sonhos, é sempre sutil,
Transcende a alma e o coração feridos.
Quem sabe da dor que dilacera o seu peito
Ou conhece as lágrimas que alagam su’alma?
O sangue corrente em canal estreito,
O suor aflitivo de sua palma?
O poeta, sorrindo, canta, (in)feliz, o amor,
Sugere se encontrar acima da tristeza,
Diz que é amado, com emoção e fervor,
Como se amado fosse, com júbilo e destreza.
Canta, o poeta, a paixão sem regras, sem limite,
A felicidade que nem sempre existe!
Rima versos molhados pelo seu pranto.
Canta a saudade que destrói seu coração,
Invoca, delirando, por mais atenção!
Abriga, no seu peito, o desencanto.
Mas se está feliz, ninguém o segura!
Abre a sua alma, partilha o seu momento!
Compõe versos com sonoridade e ternura,
Transpira o amor, exala o olor do seu pensamento!
A poesia se encontra no seu imo,
Na vida, no coração, na natureza,
Por isso, todo poeta é um menino,
No seu âmago reside a pureza!