Meditação sobre a cidade
Na economia ingênua do aparente
a cidade implica o ostensivo,
o olho ostensivo
na ambiguação das cores —
tudo no entanto é vereda,
entra-e-sai calcinado
e apuração dos nomes;
tudo resiste à biografia sucinta das torres,
só do incompatível
produzindo chão e luz redonda
sob carrancas da sorte.
Houve o que ainda há,
corroído e panóptico como escuridão sem vultos
na manhã feroz dos galos cegos —
deixada a um canto,
ninguém repara na sombra dissolvida em lama,
sem respiradouros,
blefe descoberto,
redução descompassada sem lei nem desatino.
Houve o que ainda haverá
quando sem tempo
a cada passo o ostensivo não for mais cidade,
não apontar o dedo,
não fornecer os nomes.
[28.1.2008]