Todas as marias

"Então te quero Marias. Todas.

As quentes. As frias.

As certinhas.

As com manias.

As que enchem.

A que me esvazia.

A puritana. A escancarada.

A que só olha.

A que não nega nada.

Mas todas com uma marca:

de ser sapeca, de ser danada."

(Sade)

Louca em meu grito de silêncio

ao derrame despudorado do cio,

nos meus gemidos e insanos urros,

no carinho lento, na voz baixa, nos sussurros,

na entrega desmedida de vasta beleza,

na cama, no chão, no mato, na mesa,

inventando outra, quando outras me somem;

- eis-me Marias, de corpo, ao teu homem.

Maria-carne-farta para saciar tantas fomes,

Maria-sandice para aplacar tantas dores;

Maria, marias, são todos os meus nomes,

entregue aos homens

e seus amores.

Maria devassa, nua de passo,

a anca atrevida mostrada na boa,

menina de trança, cabelo com laço,

mulher vagabunda que gargalha à toa.

Maria escandalosa, a Pomba bandida,

bebendo champanhe na esquina da encruza

vestindo vermelho na gira da lida,

deitando caboclos nas coxas que cruza.

Maria, mocinha, de olhar ardoroso,

sonhando o amor do sono acordada,

pequena criança de gesto manhoso,

mulher ardilosa decidindo a tacada;

marias, Maria, selvagem, sapeca,

registrando no sangue sua imensidão,

menina risonha, levada da breca,

Maria, Mulher... o eme da tua mão.

Sampa, 28.01.2008

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