Eis

Há muito peguei estrada

Atrás da felicidade

Entro em todos atalhos

Perco-me em labirintos

Sem medo da caminhada.

Sentidos bem aguçados

Imprimo em minha retina

O olhar que está ao lado

Ora um olhar todo santo

Ora de puro pecado.

( Na minha procura sigo

Olhando todos e tudo

Só não olho pro umbigo)

E pelas minhas narinas

De um jeito meio vadio

Entra cheiro de incenso

De alma, de carne , de cio.

E dobram nos meus ouvidos

Gargalhadas da esquina

Ou o fogo dos gemidos

Que se crêem na surdina.

(Seguindo assim pela rua

Ouvindo a todos e tudo

Minha busca continua)

Busco mãos que entrelaço,

Mãos de calos ou de seda

Busco corpos que abraço

Corpos fogo, corpos gelo

Tecidos de pele e pêlo.

E saboreio o manjar

Dos deuses e dos diabos

E engulo muitos sapos

Com a pose de um nababo

Não passo fome nem sede

Aceito o oferecido.

Só recuso sua rede:

O caminho é comprido

E nem deve acabar

Pois agora estou bem certa

Que a tal felicidade

Está neste procurar.

Emília Casas
Enviado por Emília Casas em 10/12/2005
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