Noite Sofrida 


Na noite esquecida
sem luar
um ponto vermelho
distante
aos poucos aumenta
e um vulto selvagem foge 

No negrume da noite
o ponto vermelho
alastra por aquela ravina
silenciosamente
enquanto algures
uma sirene faz soar
um som agudo
que acorda toda a aldeia 

É o despertar de uns quantos
naquela noite acalorada
num rompante de heroicidade
para um trabalho
dispensável criminoso
cedido pelo calor que desponta
no culto da noite 

É a faina coberta de espinhos
a que muitos se entregam
voluntariamente
em defesa daqueles
que mãos assassinas
são indiferentes 

Mas o ponto vermelho
alargou os seus tentáculos
devoradores
através de hectares e hectares 

Homens destemidos
arriscam as suas vidas
com o suor dos seus músculos
rugindo à morte
de pinheiros que sangram
na sua queda 

A noite expande-se
com o nascer tardio
da Lua
Homens no destemor
Da vida
carros grandiosos
trespassam o silêncio 

Sirenes agulhetas
gritos aqui e acolá
numa tentativa
de controle
daquela imensidão
devastadora
encarniçada 

Os ponteiros do tempo
correm velozes impávidos
com o amanhecer e o fim
daquele trabalho ingrato
de destruir
o que a dignidade constrói 

Veio o rescaldo
Vultos teimosos
Símbolo da paz
com as suas vestes
as suas fardas amarfanhadas
vão finalmente descansar
Por quanto tempo?
Um minuto uma hora
um dia?
O tempo o dirá...
pedrovaldoy
Enviado por pedrovaldoy em 26/01/2008
Reeditado em 24/01/2010
Código do texto: T833207