Finito ao Infinito

"No grão do tempo, o coração vislumbra o eterno, mas só o verbo ousa tocar o além."

Ó frágil sopro, que em razão se fia,

Tenta o véu do eterno a trespassar.

No crepúsculo, onde a alma se esvazia,

Lamenta o mar que nunca há de abarcar.

O carvalho, em silêncio, curva o tronco,

Um signo grave do que foi e é.

Sua sombra reflete o tempo bronco,

Que prende o ser ao que jamais se vê.

Que é o corpo senão cinza em fuga,

Um eco preso ao instante que se vai?

A mente, audaz, transcende a vã luta,

E busca o todo onde o nada cai.

Ó astro frio, que meu pensar vigias,

Teu fulgor ri do limite que me deu.

Em teu clarão, promessas tão antigas

Se dobram ao vazio que for meu.

O vento canta, em sua errante sina,

Um hino preso ao ciclo que o gerou.

Assim meu ser, em ânsia que o domina,

Quer o além que o tempo não formou.

As ondas quebram, cegas, na ribeira,

E eu, finito, sigo seu rumor.

No efêmero, a alma eterna se esgueira,

Buscando o ser que escapa ao seu amor.

Canto ainda, com voz que o cosmo cala,

E teço enigmas onde o nada vai.

Se a carne tomba à sombra que a avassala,

Meu verbo brilha onde o eterno trai.

J Starkaiser
Enviado por J Starkaiser em 26/04/2025
Reeditado em 26/04/2025
Código do texto: T8318213
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