Finito ao Infinito
"No grão do tempo, o coração vislumbra o eterno, mas só o verbo ousa tocar o além."
Ó frágil sopro, que em razão se fia,
Tenta o véu do eterno a trespassar.
No crepúsculo, onde a alma se esvazia,
Lamenta o mar que nunca há de abarcar.
O carvalho, em silêncio, curva o tronco,
Um signo grave do que foi e é.
Sua sombra reflete o tempo bronco,
Que prende o ser ao que jamais se vê.
Que é o corpo senão cinza em fuga,
Um eco preso ao instante que se vai?
A mente, audaz, transcende a vã luta,
E busca o todo onde o nada cai.
Ó astro frio, que meu pensar vigias,
Teu fulgor ri do limite que me deu.
Em teu clarão, promessas tão antigas
Se dobram ao vazio que for meu.
O vento canta, em sua errante sina,
Um hino preso ao ciclo que o gerou.
Assim meu ser, em ânsia que o domina,
Quer o além que o tempo não formou.
As ondas quebram, cegas, na ribeira,
E eu, finito, sigo seu rumor.
No efêmero, a alma eterna se esgueira,
Buscando o ser que escapa ao seu amor.
Canto ainda, com voz que o cosmo cala,
E teço enigmas onde o nada vai.
Se a carne tomba à sombra que a avassala,
Meu verbo brilha onde o eterno trai.