Rito do Fogo

Viestes como uma manhã tardia,

com o ventre aceso de presságios.

Não falavas —

teu hálito era mirra,

e teus pés sabiam o altar.

Cada dobra tua

escrevia um salmo de calor,

e eu, aprendiz de tua pele,

lia com a língua.

Teus seios —

duas luas em parto —

regiam a maré do meu peito.

Ali, onde o mundo esquece o nome,

fiz da tua nuca um horizonte.

O tempo se curvou entre tuas coxas,

a carne cedeu com solenidade,

e o prazer, como vinho derramado,

ungia o espaço entre os corpos.

Não te despi —

recolhi os véus que caíam sozinhos.

Foste abismo,

foste corda,

foste o canto que se escreve com suor.

A terra recebeu tua dança

como quem escuta um segredo.

E quando a chuva nos achou,

nossos corpos eram barro e milagre,

e o mundo, suspenso em nós,

pendia como fruto maduro.