Desprezo
Esse abismo que encaro e me sorri
— Mandíbula abissal de uma pantera —,
Mastiga, sem que eu queira, o que senti
Quando a tristeza em mim se depaupera.
Nem escondo esse monstro vil, cujo hálito
Eleva-se até mim e me arrepia.
Machuca quem eu amo… sei ser fático:
Vivo nos braços da melancolia.
Se toda vez que eu chego a esse limite,
O olhar que vem de baixo a mim gargalha,
Sinto o peito tremer qual dinamite
E tudo em mim se explode e se estraçalha.
Esse abismo me chama; é tentador
Viver na dentição que dilacera.
Eu desisto, Desprezo, és meu senhor;
Deitar-me-ei sob a língua da pantera!