Regaço
Sombras me enclausuram.
A solidão da alma
fere mais que a do corpo.
Anseio desvelar-me.
Sinto falta do regaço,
dos braços que acolhem
e preenchem o vazio,
num afago que não tem fim,
como lã a me aquecer.
Ando cansado de abraços perdidos,
de frustrações que corroem,
de angústias que sufocam.
Alimentei o silêncio que pesa --
crença de abrigo.
Onde o abraço que acolhe
e dissipa minha dor?
Preciso deixar fluir a vida,
rever propósitos,
reescrever histórias,
reconstruir um novo agora,
buscar aconchego.
Preciso fazer as pazes comigo,
enterrar a machadinha de guerra,
fumar meu cachimbo da paz --
cicatrizar conflitos,
conversar comigo mesmo,
silenciar meus tambores de guerra.
Que meus lábios não reverberem
minhas idiossincrasias.
Que eu encontre refúgio
na fluidez da vida.
Que o regaço, há tanto procurado, sele minhas dores.