CASAS SÃO COMO A GENTE

pelo dia expostas ao sol

conversam com as vizinhas

fofocam

olham pelas janelas

abrem em bocas as portas

deixam entrar as visitas

casas também ficam tristes

em dias fúnebres

chorando seus donos

memórias

casinhas convidativas

limpas

vivas sempre-vivas

casarões nas esquinas

orgulhosos senhores

burgueses de pernas passadas

nobres fiscalizando a cidade, das sacadas

palacetes esclerosados

artérias entupidas de segredos e histórias

casas são como a gente

no verão fazem serenatas à luz da lua

sentem o frio do inverno

fecham os olhos molhados de cinza

dormem fileiras de casas nas madrugadas

aconchegam carinhosamente bêbados

no colo das calçadas