Feira de Impostos
João Brasil
pega a sacola,
olha o bolso,
olha a lista,
conta nos dedos
cada gasto, cada grão,
cada gota de suor
que virou arroz,
feijão,
café, pão,
sabão pra limpar
o que suja,
pra lavar
o que veste.
João Brasil
respira fundo,
passa os produtos no caixa
como quem passa a vida
na catraca,
cada bip um corte,
cada som uma faca.
E quando chega o último item
não sobra troco,
não sobra nada.
A conta estourou
— não pelo pão,
não pelo café,
não pelo sabão.
Mas pelo que pesa invisível,
o que se infiltra nas notas,
o que rouba antes de chegar à mão.
A feira dentro da feira,
o que se paga sem ver,
o que se leva sem querer
— o imposto, João,
o imposto.
- Antonio Costta