Poema Inacabado
Eu sou um poema inacabado,
Riscado sobre o papel de pão
Quando o lápis estando abandonado
Sem saber juntou-se à mão.
Sou as palavras deixadas à própria sorte,
Tantas vezes sem nada significar,
Hora sou vida, noutra hora sou morte,
Mas todo o tempo tento expressar.
O imenso carinho entregue aos pés,
Recusado, com delicada atenção
O lamento cansado de tanto revés,
Delírio, fantasia, devaneio e alucinação.
Inacabado, pois no momento exato,
Em que se entrega não se faz verso
Antes confuso se torna o retrato
Do que no silêncio jaz submerso
Mas o fragmento restante desta poesia
Tola, sem rimas, sem forma ou vida
Recolhida a um canto na casa fria
Permanece calada e adormecida
Pois eu sou um poema inacabado,
Buscando ainda alcançar teu olhar
Mesmo que jamais seja recitado
Palavras soltas que se perdem no ar.