ERRANTE

ERRANTE

Escuto vozes. Não só no silêncio da noite

Escuto vozes nos burburinhos da cidade.

Até converso com essas pessoas ocultas

E rimos a valer dessa tola materialidade.

Quando me virem só, sozinho não estou.

Estou a conversar com quem me dá atenção.

Discutimos tantas coisas... Menos sobre morte!

Há umas danadinhas que falam sobre fornicação.

Às vezes, envergonhado, afasto-me dos olhares

Curiosos de que me vê corar e tremer de excitação.

Não deveria me importar. Acham que enlouqueci!

Deixo passar. No que pensam não devo interceder.

Outra noite Baudelaire convidou-me para um vinho;

Neruda, que o acompanhasse em passeio noturno.

Declinei dos convites. Tinha compromisso com Florbela

Que falou tanto de desventura até me deixar soturno.

Tenho ouvido tantas vozes que não sei mais que fazer.

Toco em mim para saber se estou somente dormente

Vagando entre o céu e a terra como um poeta errante,

Ou divago por um instante verdadeiramente consciente.

Poeta matemático
Enviado por Poeta matemático em 23/03/2025
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