Silvicultura
Oh, vede! Que bosque é este que se estende em linhas?
Tão verde à vista, tão árido à alma?
Ergue-se em fileiras como exército sem coração,
milhões de hastes repetidas — sem canto, sem ninho, sem coroa.
Chamam-no floresta, mas não ouço o murmúrio da vida,
não vejo o voo do pássaro, nem o rastejar do humilde inseto.
A terra, que outrora embalava a diversidade em seu ventre,
agora jaz exaurida, sugada por raízes que não partilham.
É um deserto, vestido em trajes de folha.
Uma tapeçaria de sombras mortas,
onde cada árvore é espelho de sua irmã,
e nenhuma conhece o nome do chão que habita.
Ó Eucalipto!
Tu que bebes mais do que dás,
tu que cresces veloz, mas não amadureces com a floresta —
que nobreza há em teu silêncio vertical?
Dizei-me vós, senhores do manejo:
É arte plantar o mesmo até o cansaço?
É ciência calar o coro da biodiversidade
e erguer um império sem súditos?
As matas não se fazem de números,
nem o verde se mede em hectares.
Pois que adianta o tronco reto
se o canto das aves está mudo?
A floresta não é só madeira,
é sopro, é dança, é enredo entre espécies.
Mas vós cortastes o enredo,
deixastes o palco, mas sem tragédia nem aplauso.
Eis o vosso reino:
Um deserto verde,
onde o vento caminha em reverência,
não pela majestade —
mas pelo luto daquilo que poderia ter sido floresta.