Adiante um poste alado...

Adiante um poste alado

Na luz o meu mirante

Na vista o concreto armado

Toscas investidas de janelas

Noutro delírio de Dante

De um opaco olor aramado

Vastas, feito cavernas

Amianto, alumínio, um estojo

Vértice de lagunas e trinchas

Uma forte cor de pecado

Desce um bocado

Outra janela transeunte

Tudo aquilo que renegas

Um olhar de soslaio, evasão

Passa por cima de uma criança

Esquecendo que já foste uma

Outro olhar vago e piegas

De um consorte vesgo e velho

Como se nunca será depois

Na cor pálida de uma página baixada

O meio que nem sempre é fim

Daquilo que busca encurta caminhos

Querendo, aprendendo a viver

Se não são tão boas as falas

De tanto que espera que se fala

O concreto continua armado à espera

No desespero de quem saiu do caminho

Arre! cada um suportam sua dor

Da mesma forma que se tiram os espinhos

E aquilo que é sonho, lúdico

É porque os meus olhos não brilham apenas com a dor da solidão

Aquele poste de luz incessante

Alado além do horizonte, sem ser norte

Farol de túmida Ilha no mar salgado

E que me toma os braços

E que me acalenta com tons suaves

E que esconde a minha ira, a minha revolta e os meus erros

Meu porto seguro, que me absorve e me embala

Enquanto espero o tráfego da noite

No piso armado de concreto

Luz que me aporta na vista do poste

Que de alado ainda reluz

De cara para a noite

Para que entre as sombras

O pensamento fuja seguro

Sem medo de perturbar ninguém.

Os encantos que colhi em pequenas partes

Também me brilham os olhos.

Peixão89

Peixão
Enviado por Peixão em 28/03/2005
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