VERGONHAS NUAS

VERGONHAS NUAS

Moro nos interstícios da minha memória

Nos meandros escondidos da sinuosa história

Nos projetos inacabados de ter pertencido

À realidade inflamada de me ver esquecido

Vivo na letargia dos sonhos não dormidos

Descansando nas noites dos oprimidos

Depois de dias intermináveis de labuta

Sob o chicote da precisão - força bruta.

Preso pelo desprezo a gerações postulado

Não tive escolha senão esse único lado

Para remoer a revolta pela cruel tirania.

Sublevo-me para servir-me dia após dia

De migalhas temperadas com suor e medo

De não poder abrir o cadeado do degredo

Condenado a gerações na mesma classe social

Em que plantaram meus ancestrais nesse quintal

Sem cercas de arame farpado, mas de rosários

De promessas de purgatórios e sofrimentos vários

Ante o alívio de um paradisíaco e distante céu

Com manás e mel que adoçam a boca do réu.

Desde a nascença pela crença e fé impostas condenado

“Amanhã deus proverá...” o alimento do desesperado

Que se abrigará na indulgência de fétidas prisões e ruas

Sem sonhos, mas com as vergonhas de existir quase nuas.

Poeta matemático
Enviado por Poeta matemático em 18/03/2025
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