Emergência do ser

Emerge do indescritível um risco,

Uma centelha de luz, um chuvisco,

Um ponto singular como um aviso

Do que se tornará, num improviso,

O ser a se espalhar como rabiscos,

Da forma inerte ao complexo juízo.

Vem à luz a própria luz nascente,

A brilhar no vácuo inconsistente,

Onde o ser, ainda a se arrastar,

Persegue o devir, inconsciente,

Sem poder escolher onde ficar,

Move-se, tal como água corrente.

Surgem os corpos em tom celeste,

Os variados astros em formação,

Transformando-se, de leste a oeste,

De pequenos pontos à vastidão,

Compondo o espaço que os reveste,

Dando origem às normas da razão.

No nascer do vazio, a vida emerge;

Da unidade, um múltiplo se segue,

E, multiplicando-se, se converge

Na totalidade do ser que persegue

Um conhecimento que se diverge

Da razão natural que lhe foi entregue?