Praia de Plástico
Um brinde! Um brinde ao leite da infância,
que em taça de plástico se fez promessa,
que à boca outrora faminta trouxe doçura,
e à alma vazia fez crer na fortuna!
Eis-me agora, homem feito,
senhor de meus desejos,
a quem não falta pão, nem teto, nem carruagem,
a quem os ventos do mundo já não negam o sonho,
pois do ouro que me fugia, agora sou dono!
Mas ai! Que ironia cruel!
Em terra distante, sob céu de safira,
ao pisar na areia do paraíso perdido,
ei-la! A lembrança que me assombra,
não em memória, não em saudade,
mas em espectro deformado,
em garrafas plásticas lançadas pelo mar!
Seria aquela minha?
Seria minha a maldição que pesa sobre estas águas?
Oh, destino infame!
Dois sonhos de infância, unidos pelo tempo,
mas onde não deviam se encontrar!
Que fiz eu? Que crime semeou minha mão?
Era apenas um gole! Um gesto ínfimo!
Mas não há inocência quando o oceano devolve,
e eis-me agora sentenciado,
não pelo homem, mas pelo próprio mar,
que, em sua justiça eterna,
me lança à face o que eu mesmo condenei ao esquecimento!
E ali, de joelhos, sob o riso das ondas,
ergui-me em expiação,
como um tolo que sonha redimir o mundo.
Colhi, varri, purifiquei!
E ao fim do dia, cansado, sorri,
pois julgava, em minha vaidade,
ter arrancado a praga da terra.
Mas ai! Que zombaria cruel!
No dia seguinte, eis que retorno,
e o mar, impiedoso, me brinda com nova oferenda!
O plástico volta, multiplicado,
como se em mil espectros se dividisse,
como se sussurrasse aos ventos:
"Sozinho, não livrarás o mundo de tua culpa!"
Oh, terra ingrata! Oh, mar implacável!
Se fui eu que plantei, não fui eu quem regou,
se fui eu que bebi, não fui eu quem encheu os mares!
Se a culpa é minha, por que a compartilhais comigo?
Vinde, pois, demais culpados!
Que ninguém me peça o sacrifício de limpar o que não sujou sozinho!
Pois nesta praia de espectros,
nesta areia feita de lixo,
minha culpa não é mais que um grão.