Turismo?
Que dizeis, amigo? Que tal ao Éden nos lançarmos,
longe do fardo das muralhas de pedra,
que nos sugam a alma e nos cobram o sonho,
e ao nos exaurirem, fazem-nos cativos
de uma miragem que chamamos vida?
Com ouro paguei a travessia,
comprei passagens rumo ao paraíso,
eis que as âncoras se soltam, eis que parto!
Mas ai! Que sombra vil me assalta?
Este desânimo que me ronda em cada viagem,
como mau presságio que sussurra ao vento,
a dizer-me que o idílio já não mora aqui?
Morro de São Paulo! Ah, teu nome soa promissor!
Imagino-te ilha intocada, terra de encantos,
onde a mão do homem não ousou tocar,
onde as águas sussurram segredos aos pés nus.
Mas que engano me espera! Que amarga revelação!
No primeiro olhar, eis o deslumbramento!
A vista é bela, e o ar, leve como a ilusão.
Mas ah! Não tardam os olhos a ver além das cores!
Que vejo? Alvenarias onde devia haver areia,
muros onde outrora dançavam os coqueiros,
e um mercado de sonhos, onde antes era selva!
Oh, paraíso comprado e vendido!
Que cruel destino te coube?
A primeira praia, engolida em concreto,
a segunda, oferecida aos festins do comércio,
a terceira, aprisionada entre muros,
e à quarta, que chora sua lenta ocupação,
resta o presságio do que há de vir!
Que ilusão é essa, que faz da ilha uma cidade,
que traz a São Paulo para as terras de Tinharé?
Que mente insaciável é essa,
que ao fugir da metrópole, a reconstrói em outro chão?
Ai de mim! Que busquei o perdido e encontrei o domesticado,
que sonhei a natureza e vi espelhos de meu próprio cárcere!
Que dizeis, amigo? Que tal deixarmos este paraíso encontrado,
antes que mais um alicerce se erga sob nossos pés?
Sequer me espanta que o nome do meu senhor
figure entre os que moldam esta terra a sua imagem!
Vamos! Fujamos, antes que a ilha se esqueça de si mesma,
e se torne apenas um eco do que um dia foi!