Pastagem?

Ó trágica sina da terra profanada!

Onde jaz o esplendor dos troncos altivos,

as madeiras que outrora, régias e imortais,

erguiam-se como templos da floresta intocada?

Eis que tombam, não sob tempestades de fúria,

não ao sopro do tempo,

mas sob lâminas forjadas por mãos ávidas,

por engenhos de ferro, cuspindo óleo e vício,

manipulados pela mão invisível do mercado,

essa dama pérfida que ao vazio dá mais valor

que ao volume fecundo do bioma ultrajado!

Que vis destino, que mercadores impunes

queimam o relicário das matas sem temor,

vendem por preço vil o que valia reinos,

e em troca semeiam campos de nada?

Não se ouve o assovio do machado,

não há cheiro de leite derramado,

mas ao longo da estrada

o olhar perscruta terras nuas,

onde pastos se estendem sem gado,

onde tudo se abre, mas nada se cria,

e em meio ao nada, há segredos.

Ó vastidão suspeita!

Se não é gado que pisoteia esse chão,

se não é arado que rasga sua pele,

que crimes repousam sobre esse silêncio?

Oh, que mistério nos olhos da terra vazia!

Que sombras escondem os campos imensos,

onde só deveriam vagar as águas,

onde só deveriam cantar as árvores?

Que os senhores da lei nunca encontrem estes versos,

nem as palavras que, como raízes profundas,

testemunham o que o homem busca enterrar!