Queimadas

Que ruges, fogo voraz?

Que fome é essa que nem a chuva sacia,

nem o brejo resiste, nem o vento dissipa?

Vens com tua lâmina ardente,

com teus dedos rubros,

e tomas o que não te pertence!

O Pau-Brasil se curva, ferido,

o Pau-Ferro racha, estalando ao calor,

a Guapeba solta ao vento suas últimas folhas,

e o Mangue Vermelho, sufocado,

cede ao inferno que lhe abraça as raízes.

Na fuga, o Mico-Leão da Cara Dourada salta ao nada,

mas para onde ir, se o céu é fumaça?

O Jacaré de Papo Amarelo se lança à lama seca,

mas que refúgio há, se a água virou cinza?

A Onça-Pintada corre,

mas a mata que a escondia não mais existe.

O Guaiamum, outrora rei das marés,

jaz enterrado em pó e fuligem.

E os rios, antes vivos, arrastam a morte,

carregam em suas correntes

o que já não pode ser salvo.

Mas ai, os homens!

Que riscam o fósforo, que alimentam as chamas,

e em sua tolice murmuram:

"A terra renasce, a mata voltará."

Dizei-me, ó cinzas levadas ao vento,

quem disse que a mata esquece?

Quem disse que a terra perdoa?

Samuel de Amaral Macedo
Enviado por Samuel de Amaral Macedo em 25/02/2025
Código do texto: T8272643
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