Podres rios
Ó rios, vastos e vivos outrora!
Ó braços líquidos da terra, nutrindo cidades e campos,
envolvendo margens, deslizando livres sob o céu sem amos!
Quem vos traçou? Quem vos domou? Quem vos lançou à servidão,
cortando vosso curso, fechando vosso leito,
impondo sobre vós a medida exata da cobiça?
Nos séculos antigos, vos movíeis com a força do tempo,
vos misturáveis ao mar sagrado, abraçando Iemanjá,
dançando em vossas próprias correntes,
como um jovem que parte para o mundo sem medo,
sem dono, sem dever, sem culpa.
Mas ei-los agora!
Sepultados a céu aberto, apodrecendo sob o próprio peso,
onde antes corriam livres, agora se estancam,
fundem-se à multidão que cresce,
a massa que flui sem saber para onde.
Esperam sinais de vida,
mas o tempo não os ouve!
Afagados sem piedade, cortados, aprisionados,
ó rios, rios de outrora,
nem vós sentis saudade de vós mesmos!