Podres rios

Ó rios, vastos e vivos outrora!

Ó braços líquidos da terra, nutrindo cidades e campos,

envolvendo margens, deslizando livres sob o céu sem amos!

Quem vos traçou? Quem vos domou? Quem vos lançou à servidão,

cortando vosso curso, fechando vosso leito,

impondo sobre vós a medida exata da cobiça?

Nos séculos antigos, vos movíeis com a força do tempo,

vos misturáveis ao mar sagrado, abraçando Iemanjá,

dançando em vossas próprias correntes,

como um jovem que parte para o mundo sem medo,

sem dono, sem dever, sem culpa.

Mas ei-los agora!

Sepultados a céu aberto, apodrecendo sob o próprio peso,

onde antes corriam livres, agora se estancam,

fundem-se à multidão que cresce,

a massa que flui sem saber para onde.

Esperam sinais de vida,

mas o tempo não os ouve!

Afagados sem piedade, cortados, aprisionados,

ó rios, rios de outrora,

nem vós sentis saudade de vós mesmos!

Samuel de Amaral Macedo
Enviado por Samuel de Amaral Macedo em 25/02/2025
Código do texto: T8272322
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