Mente inquieta
Vi passar a vida envolvida em rótulos
Conceitos, julgamentos e definições
Nessa busca infinda de mim mesma
Numa permanente luta de dois eus!
Carregando o peso dos meus medos
entre tristes trilhas em terra de cactos
tramam pensamentos nesta mente inquieta
sem comandos seguem em fragmentos
no moinho-mente, cárcere perpétuo,
Meu carrasco é meu doido intelecto!
Oh! máquina atroz de pensamentos
Produtora de zumbidos incessantes
Abafando a canção que vem da alma
Traz à tona esse barulho inquietante!
Mesmo que se rompam de fora as amarras,
No universo interno existe um cativeiro
Guarida eterna dos meus sentimentos!
Ali solitária eterna vivo, não me dôo!
Coíbe-me a consciência do meu livre vôo.
Ah quem me dera! hoje, quem me dera!
Quebrar os elos abrindo o ergástulo sombrio
Alijar da mente a carga dos meus medos
Liberdade aos pássaros flores e desejos!
Num lampejo do silêncio ouço a canção:
“Desembarace e fuja dessa teia”.
que enreda as emoções mais belas!
Costure no seu corpo um pano de luz
desfaça cada passo turvo dessa tela!”
Miro destemida no espelho e eis:
Um escuro capacete cobre as faces
Uma malha de ferro esconde o peito!
- Quem se esconde sob essa clausura?
Examino bem de perto e em frêmito descubro:
Sou eu! sob a pesada armadura!
Num esforço arranco-a do meu corpo... Fico nua!
Despida dirijo-me ao Reino das Quimeras!
Empresta-me um corpo de cabra, uma delas;
Doa-me também a juba de leão!
E eu então: Fabulosa, escapo do degredo!
E delas exibindo louca a cauda de dragão
De susto mato todos os meus medos!