O berço da loucura
"A poesia é a forma mais clara, objetiva e elevada da loucura."
Estou à procura de um novo rumo para meus poemas, procurando uma visão mais poética e alegre.
Para entender melhor o mundo atual, é preciso uma nova perspectiva sobre a realidade na qual nos encontramos.
Serão poemas que se distanciam dos padrões e regras tradicionais, unindo escrita e estética para formar composições únicas, cada uma com suas características exclusivas e estrutura única.
Não empreguei caracteres em maiúsculas ou sinais de pontuação. Deixei isso ao critério do leitor para que ele possa ler como bem entender. Ademais, evitei usar títulos, os poemas não terão nomes, pois são ateus.
Contudo, há uma maneira perfeita de lê-los. As estruturas são compostas por estrofes contendo no mínimo três versos sem rimas. Elas precisam ser percebidas como a descida de uma escada. Não há uma explicação lógica para isso, mas os versos não são dispostos de maneira aleatória.
prateleiras podres
cemitério de livros
mortos
coisa esquisita
essa mania
de ser louco
se não há choro
a lei é justa
ainda que cega
o amor morre
a miséria
prolifera
o sol nasce para todos
o objetivo é iluminar
as mentes obscuras
quando ouço os pássaros
tenho vontade de voar
fui
a beleza é uma arma
poderosa
quando bem utilizada
se a mulher não tiver uma aura exuberante
será
sem dúvida
uma qualquer
sem par
nem chinelo
dê-me tempo para chorar
um instante
por favor
se alguém lhe pedi a mão
dê-lhe os braços
e não
as pernas
a necessidade de se obter as coisas
nos torna infelizes
até maus
o problema das leis
é que elas são criadas para os governantes
e não
para a plebe rude
penso pouco
muito pouco
rara_mente
o desejo de nos tornarmos grandes
nos torna fortes
justos
acolha-me
todos os espaços serão seus
indistintamente
os poemas são organismos vivos
cada vez que os leio
novas catedrais são erguidas
o amor é uma ave com vontade de voar
de ser grande
e nunca morrer
a vontade de amar é imensa
a desejo de ser amado
é um bem necessário
muitas pessoas se identificam como homens
alguns se tornam
fantasmas
parte da ópera
entender uma mulher
é amá-la
incondicionalmente
tenha em mente
que nem sempre
haverá vida igual a sua
tirar de quem muito tem
é um dever de todos
tirar de quem pouco tem
é covardia
se você não tiver asas
liberte-se
fuja
o orgulho nos torna menores
do que já somos
e fomos
se você quiser ser feliz
ignore o passado
ignore o futuro
abrace o presente com força
vivo como um sepultado
que nasce todos os dias
e morre
a cada instante
posso amar qualquer mulher
não necessariamente a que bem-me-quer
ou
a que mal me quer
quando não há lugar para investir
a decadência aflora
abre-se o caixão
agradeça a Deus por quem você é
e não por quem você gostaria de ser
esta é
a trilha da morte
as mulheres colhem os homens
como se eles fossem joias
este é o pecado capital
de quem muito escolhe
não tenha vergonha do que você faz
outros já fizeram isso
antes
ainda pior
devemos amar todas as mulheres
abrir mão de apenas uma
se possível
a solidão é o que construímos a sós
pedra sobre pedra
silencioso calvário
o amor é uma arte
um desafio
o coração não conhece descanso
em tempos de incertezas
os cães
são os nossos melhores amigos
quem diria
faça dos seus amigos deuses
e não lobos
da estepe
não esqueça de renovar os seus desejos constantemente
eles são preciosos
joias raras
é melhor andar na escuridão com os entes queridos
do que caminhar sozinho
à luz do dia
nada é perfeito
por isso
e apesar disso
me amo
é fácil olhar para uma mulher de longe
é preciso ter coragem para olhá-la de frente
ou no viés
amamos sem saber porque
odiamos sabendo de tudo
e a vaca vai pro brejo
Deus fez o homem
mas não pense que é um deus
ainda que o seja
aquele que pensa saber tudo
não aprendeu nada
de nada
escrever é a arte de expressar o que se sente
o que não se vê
a olhos vistos
no mundo de hoje
até a morte é bem-vinda
mas que não seja a minha
o amigo vale o que você pensa
que vale
quão frágil é a verdade
a vida é a arte de amar todos os dias
no calor
ou no frio
a ganância
é
a exploração
do homem
pelo homem
a mulher é
para o homem
uma arma perigosa
se você desejar ver um amigo
veja o espelho
a surpresa pode ser menor
nunca se pode dizer que conhece uma mulher
sem antes conhecer a sua cama
desarrumada
a beleza da vida é ver-se
no espelho não vale
ele mente
amar não é carregar o outro
mas sim
guiar os seus passos
agarrava-me com as mãos e as unhas
tive medo de fugir de mim
com razão
eu
que nunca tinha chorado
tive medo da morte
desabei
com certo desgosto
orei cansado
enxergava o mundo por uma porta velha
mergulhado na saudade
fui fundo
não cheguei ao olho do poço
a mágoa cobriu-me o peito
por virtude de um deslize de minha parte
me tornei um poeta
com o seu consentimento
não sou flor que se cheira
se fosse
não estaria no vaso
ao se espichar os olhos
é possível ver que o outro
é mais bonito
no entanto
agora
vi-me no espelho
de fato
sou mais bonito do que supunha
magnânimo
aquele que me chama de poeta
principalmente
quando os meus versos estão tortos
parti de volta para o lugar onde estava antes
ali é o meu ligar
nas noite do mais absoluto silêncio
não sei o que me deu
pensei que pudesse mudar o mundo
não consegui modificar nem a mim mesmo
emudeci
tal qual uma criança que ganha o peito da mãe
alheia
de uma profundidade obscura
minha sombra nunca foi rebelde
ao escurecer
sem mais nem menos
me disse adeus
não sou homem de muitas pedras
as poucas e boas
que joguei para o alto
caíram na minha cabeça
sem dó nem piedade
parti de volta para o meu lugar
expulsei a minha sombra
era meio-dia
não faço ideia de quantas horas ficamos ali
eu e minha sombra
miúda
depois partiu
simples assim
que estúpido
vivo conversando comigo mesmo
uma ladainha sem fim
não sei se te amo
aliás
assino embaixo
por extenso
ouro não tenho
nem quero
não faz parte do roteiro das minhas posses
apesar de valioso
pode levar-nos para o rio das mortes
eu era uma criança
meu pai um menino
minha mãe uma menina
prenhes de sonhos nadávamos no rio de beleza fria
num gesto vil e ambíguo
saiu de perto de mim
seu olhar no viés
assombrou o meu corpo
justo você
que viajou
por tantos e tantos mundos
mandei milhões de beijos
quase todos viraram cinzas
e nem era carnaval
em algum lugar
do peito ou da alma
uma dor me dói
o problema
é que não sei quem tem razão
o toque imortal dos seus olhos
me faz ver que somos loucos
olho para o seu rosto
me vejo feliz da vida
sei que os meus versos lhe dão prazer
você sabe
os seus
me enchem de alegria
esqueço de mim
quando percebo que os seus olhos
trespassaram meus versos
às vezes fazia versos
tinha vinte anos
queria ser imortal
hoje
não quero ser eterno
o menino já conhecia
morava ali
dentro do peito
lá
ficava
na expectativa de um abraço
ontem
me deixou
partiu
com o tempo
o menino me deixou
ficou
uma dor singular
vazia
enfim
era com a flor que eu me divertia
enquanto
a carruagem passava
isto é o que eu queria dizer
não vá
solidão é um fracasso
quanto mais leio
mais escrevo
quanto mais penso
mais louco fico
valha-me deus
essa terra
só tem doido
dizem que sou um louco
estou procurando as pedras
na boca da noite
tão inútil
uma arma de fogo
minhas mãos
não suportam o peso desta inutilidade
já basta
é o que diria
se alguma coisa
se me fosse perguntado
quero sair
cheirar o mundo
vivo em um hospício
preso
à tela do computador
deixei de ser eu
para sermos nós
ele nunca mais
queria ser
mas
não ser
tanto faz
as fotos
são mais bonitas do que a realidade
olha eu aqui
ó
desabei na cama
uma chuva de lágrimas caiu
meu rosto
uma poça de lama
minha sombra
concreta
parecia a alma de um morto
o amor
deve ser s o l e t r a d o
antes que evapore
uma coisinha à-toa
nu fundo dos seus olhos li
amor
se você me ler
vai ver
no fundo dos meus olhos
estamos grudados
o olhar era líquido
transparente
escoria lágrimas
de todos os ângulos
sou um ser sem raiz
vivo com os olhos fincados no chão
terra batida
encostas nuas
minha vida
uma rota de fuga
pedaços de mim
ficaram pelos caminhos
deveria estar lá
na outra margem do rio
como se fosse pedra de barranco
ilusão de plenitude
na ausência de tudo
a ignorância estabelece
finca pé
cria raiz
ao anoitecer
estrelas brilham
algumas caem do palco
às vezes me inventam
dizem que tenho asas
sou pedra
seixo de rio
grávida de sonhos
caminhava nos trancos
negava abandonar a vida
filhos
e netos
foi ali
no meio da rua
pariu
saiu das entranhas
o filho
da puta
ra a dona dos meus segredos
cada qual mais cabeludo
ainda assim
permanecia calada
um poço de silêncio
no centro das atenções despiu-se
endireitou os peitos
partiu os cabelos
foi-se
uma deusa
os outros
vieram depois
em bando
não davam conversa
nem favores
com a cabeça negavam
com os olhos fingiam
assim
e mal passados
seguiam
em fila indiana
os olhos mentiam que se olhavam
as bocas não se falavam
eram dois
tão magros
não se viam
no cruzamento da rua
surgiu a dúvida
ficaram olhando um para o outro
até que a morte os separou
um olhando para o outro
frente e verso
mediam a distância
assustados
espalharam-se
um para cada lado
de repente
soprava-lhe os ouvidos
o vento comia as palavras
ficava o dito
pelo
mal dito
fim de tarde
boca da noite
só o rio falava
emudeci na minha insignificância
olho para o relógio
os ponteiros estão grudados
coitados
nem sombra fazem
deitaram-se os dois
outra vez
cada qual no seu canto
agarrados na solidão
a poesia é uma doença
ora tenho medo
ora tenho fome
o relógio não para
conta a sua história
minuto por minuto
verso a verso
o medo subiu ao telhado
esvaziou o corpo da casa
o casal não teve crias
os beirais definharam
a casa sofria por estar só
as paredes das sombras
revelavam bichos
uns de sete cabeças
outros sem pescoço
todos pareciam vivos
menos eu
de tanto chorar
cansei de mim mesmo
as lágrimas caíam quebradas
espatifavam no breu
parece que sou o único culpado
não tenho outra vontade
a não ser
fugir de mim
deixar para trás o meu pelego
fora de casa
sou bicho de goiaba
queria ser árvore
de galhos vibrantes
nunca serei
sou aba de rio
poço sem fundo
na casa velha
deixei as tripas no varal
digitais por extenso
arrancadas de mim
a fórceps
rio
limpo
esfrego
não falo
... E viva a poesia!!!