Cancro sertanejo

Exposta a ferida,

lhe cabe a sutura,

algodão iodado,

limpa, costura.

Estanca: inda sai o

sangue da jugular;

seco velho seco,

carcinoma solar.

Uma outra via

lhe vem a negar

prurido severo

em teu calcanhar (amarelo enfermiço: falta esfarelar).

Vento que passa,

viria, tão sabias,

coleta restos de pele

pelo sol curtidas (e vai-se embora ao meio-dia).

Lhe chega morte estiada,

vem para cobrar,

gado ossudo e cabra

junto dos vermes irá levar (verme e osso, já não é animal).

Fita os mandacarus

que o sol trespassa (lâmina de plasma),

diz lhe Caronte do deserto,

ser de pele incrustada.

Diga-lhe: não há que ver;

os olhos já dizimados

pelo brilho plasmático,

cego desnudado de ser.

Pega da enxada filepada,

perfura chão de terra seca.

Hoje poço fundo fura,

amanhã própria cova cava.

Samuel Cavalcante
Enviado por Samuel Cavalcante em 05/01/2025
Código do texto: T8234521
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