Cemitério caririense

A João Cabral de Melo Neto

Quem sabe se não

se integram à serra

os mortos que aqui

se derramam em terra.

Esquálida é a poeira

que se lhes fecha; úmido

terreno de serra, impulsor

etéreo da decomposição fétida.

Nos cemitérios de arrenda

ou nos de utilização profana,

os cobre de uma vez certa

fustigante neblina serrana.

E por baixo da madeira,

nobre ou não rica, do que

será cinerício emergem,

igualmente, brotos tumescentes,

entre as camadas de pele,

a inundar de esporos todo

o ambiente, a sufocar o

morto que ali jaz, imanente;

entre os palmos de terra

que se entremeiam,

a separar os processos voláteis

dos que por sobre ela vagueiam.

Samuel Cavalcante
Enviado por Samuel Cavalcante em 05/01/2025
Reeditado em 05/01/2025
Código do texto: T8234518
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