O velório do amigo morto.

 

E eis que bem compungidos

Ao velório de um  amigo

Dois outros amigos vão.

Camisetas coloridas

Que é noite de verão;

Calças jeans bem desbotadas

Tênis bem etiquetados

Sobem a rua do velório

Pela noite enluarada

Qual um queijo redondinho

Passeando pelo céu.

Quando chegam, oh, que dor!

Ficam tão emocionados

Vendo o amigo esticado

Roxo e duro no caixão.

Ficam os dois bem chateados

Pois se vêem bem colocados

Deitadinhos no caixão.

Deixam lágrimas rolarem

Compreendendo o destino

Que os espera qualquer dia.

Mas eis que  outro aparece

Tal qual os dois, bem vestido,

 E do que eles mais vivído.

Já recompondo a emoção

Lhes acena, gestos dúbios

Dizendo com lábios mudos

Venham cá, mas venham já.

Como um trio musical,

Suspiram choram e lamentam

Mas logo esquecem o defunto

E começam a conversar

Pondo as fofocas em dia

Sobre a morte do homem morto.

Aquele que lá já estava

Toma a frente e chama os outros:

Vamos até ali na esquina

Preparar a carpição

Nosso amigo ali merece

Que passemos  esta noite.

Velando o seu corpo morto.

E no balcão do boteco

Bebem uma,  pela tristeza,

Bebem outra pra aquecer.

Logo após, a pra esquecer

O que foram ali fazer.

Bem, o morto já estava

Durinho lá no caixão

Vamos nós sair agora

Pra aquecer o coração

Pois se ele já está morto

Um dia nós estaremos

Vamos tratar de viver

Antes que a morte apareça.

Foram então    cambaleando

Se afastando do balcão.

Deram as costas ao velório

Foram em busca de emoção,

Que se a morte é coisa certa

Cada um tem seu quinhão.

 

 

Poema escrito em 1987, revisto em 2008. Lavras, 19 de janeiro de 2008