A AUSÊNCIA DO VATE


Ficou um vento frio
Circulando à minha volta
A lembrar-me sua ausência...
Meu quarto,
Vazio de seus poemas,
Sem o oxigênio de seus versos,
Asmático respirava.

Princesa descalça,
Sem grana nem reino,
Sem lenço ou aceno,
Chorei sua falta...

Molhado, sujo, surrado,
Qual cavalo pobre em dias de chuva,
Sem tratador, sem grama e sem feno,
Num beco da vida o Vate se encolhe.

Quem é que destino escolhe?
Jogam-se os dados sobre o verde,
Apostam-se a sede e a fome...
Mas são as Três Parcas
Que tecem os fios e a rede,
Empunham tesouras,
Cortam a vida quando bem entendem.

Pudéssemos ser, Princesa e Vate,
Escolhidos por Zéfiro,
Levados por sobre ondas
Para os cuidados das Estações...
Guardados em conchas,
A Lira e a Flauta,
Envolvendo docemente
Em alegria e ventura
Nossas frágeis pretensões...

Tiramos as pedras do caminho,
Amolamos a faca do dia a dia,
Aprumamos o corpo em desalinho.

O Vate retorna ao seu ninho!
E a Princesa lhe escreve uma poesia
Num alvo trapo de linho.



para Walter BRios, poeta e amigo querido.

 

 

 
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 08/12/2005
Reeditado em 10/05/2014
Código do texto: T82332
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