ESTE POEMA ESTÁ PUBLICADO NO MEU LIVRO "DIZERUDITO - poemas"


Os cemitérios têm epitáfios belíssimos


saístes das minhas mãos
por onde fostes não soube
ficastes em mim
o tempo de um fósforo
e esse tempo pode custar mil explosões
corri perigos e não alcancei
as horas de júbilos
fiquei fora de teus mapas

o tempo depois do clarão
desabrigou-me
percorri rastilhos de pólvora
demarquei as minas dos campos
esmaguei palavras sem melodia
aluguei salas escondidas
para sonetos
decassílabos
odes
hai kais
redondilhas
mas a hora do júbilo
o risco do fósforo
inconformavam-me

eu quis
estalactite
bruma
néctar
ventos saturados
galvanizações
arrebatamentos
buliços
sussurros,
pensei em
carvoeiros
ourives
relojoeiros
sapateiros
alpinistas
cosmonautas

espreitei a porta
a faca
azuis
a fricção do vento nas marés
casas após a chuva
ruas após a chuva

fui clarear os olhos
debrucei-me à janela
vi petúnias
miosótis
amor-perfeito
orquídeas
narcisos
crisântemos
cravos
girassóis coroando sacerdotisas astecas
flor-cadáver chacinando o cultivador
maranta que se move parada
mariposas nas arandelas

na terra a saúva cortadeira
carregadeira
jardineira
formigas surdas
quase cegas acordadas
visitei casas e cômodos
casa da fonte
casa da igreja
casa das lágrimas
procurei resonâncias
homofonias
homorgamias
aliterações
ritmos
eufonias
chaves de ouro
novos incensos

retornei ao momento fósforo
no meio do freme
o espaço trivio
desbotado
desmaiado
o que fazer com estas palavras?

apurações formais
adoecem-me tanto
facilitação de contornos
valorizações emotivas
sigam-me
as palavras dicionárias
febre de inventar
sede da procura
o momento fósforo
o graveto estorricado
não quero as coisas obscuras
pirotecnias
fruições de novidades
a sintaxe complexa não me pertence
a arte indigesta
o rastejar lunático
o flagelo de versos inteligíveis
quero o poema silêncio
após o fósforo
mesmo que detonem as granadas
fique só a perfeição da palavra
minhas mãos reclamam poesia


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Edmir CARVALHO BEZERRA
Enviado por Edmir CARVALHO BEZERRA em 08/12/2005
Código do texto: T82317