FIORELLO ABORRECE-ME
FIORELLO ABORRECE-ME
adormeço em frente ao ecrã do jornal
culpado de não ter nada de novo para contar,
as letras no meu sangue não correm para a minha aorta
segregadas como o Padre Ralph em Drogheda em Birds of Bramble,
Prometo que são as últimas, letras, como Jacopo (A)Ortis,
F.r.i.d.a. antecipa-me no sofá embrulhado no seu petit-gris.
Quando não se tem nada a dizer, o cursor bate em ritmo de blues
escrevendo à mão, pelo menos, morde-se a tampa do biro,
aparece um texto de inútil consistência De Signoribus, teclado
distrai-se, levanta-se, caminha, regressa, com a culpa de uma crosta,
da consciência de que escrever sobre nada é sempre escrever
surge a equivalência de que viver de nada é sempre viver.
Esta é uma oportunidade perdida para continuar a dar um sinal,
talvez seja um fragmento, anódino, ao estilo de Tomas Tranströmer,
Não me comovem as notícias, talvez seja a forma como uso o jornal,
como a areia para cães, a minha assinatura anual do Atelier expirou,
quem sabe, talvez sem me aperceber esteja a escrever uma obra-prima
como os biliões de escritores italianos com perspectivas pós-trabalho.
Hoje sinto-me anfíbio, meio Rottweiler e meio Chihuahua,
meio anfíbio, veículo blindado de assalto, na batalha de Okinawa,
experimentando a sensação dos comerciantes de Mondadori
de produzir palavras por encomenda, não me surpreende que se retirem
e se refugiem, aos pares, renunciando aos contratos fariseus,
para se afundarem, com a cultura do fazer, em La nave di Teseo.