SÚPLICAS DE MEU VENDAVAL

Quem diga que o poeta é um tradutor de sentimentos?

Há uma recusa íntima que me impele a tal sentença contestar

Poetas são vozes que se dão nas folhas vagantes, ao relento

São caixas ressonantes, dos tristes ecos a se calar!

Poetas voam aqui no chão, e se molham em pleno deserto

De suas lavras brotam pétalas, que perfumam os altos mares

Ainda que avistando a luz de um farol, seu navegar é incerto

Ainda que habitando em cavernas, sua morada está nos ares!

Sentimentos não se traduzem, porque são vírus da incompreensão

São naus que sequestram a paz de todas as nossas guerras

Neles contemplo um espelho a refletir, as lacunas de minha razão

E enjaulo, por temer agredir-me os sentidos, todas as minhas feras!

Desta feita, não seria o poeta o arauto das letras perfeitas

É maestro a conduzir no cair das lágrimas, cada uma de suas sinfonias

É sacerdote fiel ao amor, doutrina-mór de suas seitas

É o objeto atirado mais longe por suas próprias ventanias!

Quando me leio, vejo tintas vivas, postadas em página que vegeta;

Nem sei se me faço bem, ou se sou a própria síndrome de meu mal;

Para alguns talvez seja sofismo, outros me têm por promissor poeta;

Aos meus olhos, porém, não passo de voz suplicante de meu próprio vendaval!!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 18/01/2008
Reeditado em 14/01/2012
Código do texto: T822336
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