SÚPLICAS DE MEU VENDAVAL
Quem diga que o poeta é um tradutor de sentimentos?
Há uma recusa íntima que me impele a tal sentença contestar
Poetas são vozes que se dão nas folhas vagantes, ao relento
São caixas ressonantes, dos tristes ecos a se calar!
Poetas voam aqui no chão, e se molham em pleno deserto
De suas lavras brotam pétalas, que perfumam os altos mares
Ainda que avistando a luz de um farol, seu navegar é incerto
Ainda que habitando em cavernas, sua morada está nos ares!
Sentimentos não se traduzem, porque são vírus da incompreensão
São naus que sequestram a paz de todas as nossas guerras
Neles contemplo um espelho a refletir, as lacunas de minha razão
E enjaulo, por temer agredir-me os sentidos, todas as minhas feras!
Desta feita, não seria o poeta o arauto das letras perfeitas
É maestro a conduzir no cair das lágrimas, cada uma de suas sinfonias
É sacerdote fiel ao amor, doutrina-mór de suas seitas
É o objeto atirado mais longe por suas próprias ventanias!
Quando me leio, vejo tintas vivas, postadas em página que vegeta;
Nem sei se me faço bem, ou se sou a própria síndrome de meu mal;
Para alguns talvez seja sofismo, outros me têm por promissor poeta;
Aos meus olhos, porém, não passo de voz suplicante de meu próprio vendaval!!!