Em tempos de esperança
Dias de recorde histórico:
excede os quarenta.
Calçadas em brasa
que arrancam a sola do sapato,
e se não houver…
Bom, nós logo nos acostumamos.
Suor escorre pelas costas. Corpos correm
de um ponto seguro a outro,
feito fugitivos. Pessoas deixam trilhas
quando se movem, feito lesmas.
E para cada segundo de calor
há alguém que pergunta se você notou
que hoje faz calor.
Eu sempre detestei repetições.
Nas fachadas quentes,
neve falsa e dura. Globos invernais
lotam lojas de decoração. Homens de gorro
e bota e manga longa, esbaforidos.
Jingles natalinos em inglês. Gente que finge,
gente que crê pertencer; gente-cópia.
E para cada segundo de arrasto
há sofredores de memória curta
jurando que passou rápido.
Eu perco o presente entre vãos;
em meus sonhos, ainda sou abandonado.
Eu não estou triste
e não consigo ser feliz.