A DOENÇA DA INVECTIVA

A DOENÇA DA INVECTIVA

Para descobrir as causas do facto de eu viver cada acontecimento como se fosse uma disenteria,

deitaram tinta, um enorme descuido, na cânula da gastroscopia

os anatomopatologistas, e diagnosticaram-me a doença invetiva,

associada ao refluxo literário, inundado do esófago, para me oxidar a gengiva.

Quando, cão cínico de coleira, me cheira a imperícia ou o fedor da egopatia

não consigo tolerar o outro no mundo, vítima de abuso xenófobo

esqueço-me de todas as formas de fair-play, desço ao nevoeiro do Berserker,

negro furioso como um zulu obrigado a aturar um afrikaner,

digo ciganos a sinti, sinti a ciganos, ciganos a romenos, romenos a ciganos

Nem sequer me consegui impedir de gritar Hitler aleikhem Shalom.

Se não vos digerir, ouço “uh, uh” por dentro, como Leónidas nas Termópilas,

identificando os vermes que me rodeiam, à medida que os meus eosinófilos se aguçam

emito, em excesso, ácido clorídrico e deixo de desinibir a bomba de protões

com o desespero de um Mazinga enviado em branco pela mulher biónica,

cuspindo, com a astúcia da Naja nigricollis, hectolitros de cianeto

na cara daqueles que, irritando-me, estão condenados a bater com a cabeça na parede.

Para compreender o ethos da minha vida sem ataraxia

bárbaro que encontra um cidadão na chora da anti-“poesia”,

sereis todos, sem exceção, obrigados a viajar em grupo

nos meandros labirínticos da minha doença invetiva.

Ivan Pozzoni
Enviado por Ivan Pozzoni em 19/12/2024
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