ESTATUTO SINCERO.

Não escrevo sobre quem não quero,

Não falo sobre quem não escrevo.

Este é meu estatuto sincero

E longevo.

Não penso em quem não vejo,

Não alimento quem não penso.

Não é apenas desejo

Mas lucidez e bom senso.

Não mimo quem nunca nasceu,

Livre estou do momento da morte.

Nalgum lugar uma luz se acendeu,

Emblema de sorte.

Não amo quem tampouco odeio.

É somente nada que carrego por dentro.

Esse nada que precisamente parte ao meio,

E abre um vazio no centro.

Não poupo quem me fere no escuro,

Não poupo o nobre cidadão ao meu lado

Que num rompante obscuro

Revelou-se o mais vil dos invertebrados.

Não nego minha precária essência divina,

Não escondo a mácula em meu altar.

Minha ternura carrega ignorância suína,

Meu coração se comove como estrela do mar